Métodos de administração da nutrição parenteral (NP)
A administração da NP exige cuidados que são essenciais para o sucesso da terapia, pois é possível que, apesar de se cumprirem todos os requisitos de boas práticas, estas acabem se anulando se a administração da mistura parenteral for feita sem obedecer a um protocolo estabelecido para este fim.
Os princípios de assepsia, antissepsia e o uso adequado dos equipamentos garantem bons resultados, eficácia e segurança, tanto para o paciente quanto para a instituição de saúde.
É responsabilidade da enfermagem receber e verificar o conteúdo das misturas de NP e das fórmulas enterais. É necessário confirmar a identificação do paciente, observar a integridade dos frascos e a verificar se há presença de elementos estranhos no produto que vai ser utilizado. (Resolução 63, 2000)
Administração contínua de NP
- Consiste na infusão contínua de nutrientes, em períodos de 12 a 24 horas, com fluxo constante, sem interrupção. Geralmente inicia-se com uma infusão de 30 a 40 ml/hora (cerca de 50% das necessidades proteico-calóricas), progredindo de acordo com a tolerância do paciente. Tem-se como principais parâmetros os níveis séricos de glicose e o quadro clínico do paciente, até alcançar as necessidades nutricionais calculadas e prescritas. Utiliza-se principalmente em pacientes hospitalizados.
Administração cíclica de NP
- Consiste na infusão da NP em períodos de 12 a 18 horas, geralmente durante a noite. É o método ideal para pacientes domiciliares, pois a solução é administrada à noite, permitindo que o paciente realize suas atividades normais durante o dia.
- A infusão começa de forma escalonada com gotejamento lento, aumentando a velocidade a cada 20-30 minutos, até alcançar o período de platô, no qual se mantém constante a velocidade de infusão.
- Em pacientes pediátricos, o incremento da velocidade de infusão deve ser feito a cada 45 minutos.
- Alguns pacientes podem requerer a redução da velocidade de infusão, também de forma escalonada (a cada 20-30 minutos).
- É fundamental controlar a glicemia, evitando estados de hiper ou hipoglicemia.
Técnicas de infusão de nutrição parenteral
Infusão por bomba
- Para uma administração segura de NP, recomenda-se o uso de bomba de infusão. Os dispositivos utilizados devem ser trocados a cada 24-48 horas, de acordo com as normas de cada instituição, que deve padronizar esse processo e estabelecer parâmetros baseados em evidências científicas, experiências e nos recursos disponíveis na instituição.
- Elaborar as normas de manuseio das bombas e equipos de infusão em conjunto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Essas normas devem incluir a limpeza, desinfecção, calibração e manutenção desses materiais. Os procedimentos deverão ser registrados e arquivados de acordo com o programa de controle de qualidade.
- Verificar, a cada 12 horas, se a quantidade informada pelo contador de volume da infusão realmente corresponde à quantidade administrada ao paciente.
- Manter a bolsa de nutrição parenteral ou enteral afastada da bomba (aproximadamente 50 cm), pois o equipamento irradia calor (cerca de 37°C), o que poderia induzir alterações nas propriedades físico-químicas e interações indesejáveis nas misturas e fórmulas.
Em crianças é preferível administrar a NP por meio de uma bomba de infusão, já que é indispensável manter o gotejamento constante dos nutrientes e evitar acidentes capazes de causar graves complicações metabólicas.
Observações:
São requisitos essenciais para as bombas de infusão, tanto em nutrição enteral quanto parenteral:
- Conter um manual de instruções em linguagem compreensível;
- Obter o compromisso de que haverá visitas do técnico para manutenção do aparelho e treinamento do pessoal que o utiliza;
- Ter bateria própria e de longa duração, preferencialmente não dar falso alarme;
- Ter na programação as especificações do frasco, informações sobre frasco vazio e oclusão do sistema;
- Ser portátil e leve, para facilitar a deambulação;
- Possuir controle regulável do fluxo;
- Ser fácil de limpar, de manter e de operar.
Infusão por controle manual do gotejamento
- É a infusão dos nutrientes no leito venoso utilizando a força da gravidade como impulsionadora da mistura de nutrientes, controlando-se a velocidade do gotejamento manualmente.
- Embora seja muito utilizada nos hospitais que não dispõem de bombas de infusão ou em pacientes domiciliares que não podem arcar com os custos de um equipamento eletrônico, é uma técnica que exige estrito controle por parte do pessoal de enfermagem ou da família (em casa), a fim de evitar complicações metabólicas graves.
- Favorece a mobilização e a deambulação do paciente.
- Recomenda-se o uso de equipo com microgotas para garantir o fluxo da infusão programada. Inicia-se com uma velocidade de 30 a 40 mVh (7-10 gotas por minuto), progredindo até 80 a 140 mVhora, conforme a tolerância e as necessidades nutricionais do paciente.
- Sua principal desvantagem é não permitir um fluxo constante, já que a mobilização do paciente pode provocar deslocamento da chave reguladora da infusão, aumentando o volume infundido, com risco de complicações metabólicas.
- A excessiva manipulação das vias de infusão aumenta o risco de complicações infecciosas.
Recomendações gerais para a administração de nutrição parenteral:
- Preparar as misturas de nutrição parenteral na farmácia, de preferência em capela de fluxo laminar, empregando técnica asséptica, na quantidade necessária para 24 horas. Entregá-Ias aos serviços devidamente rotuladas e indicar no rótulo: componentes, osmolaridade, gotejamento e número da mistura, a fim de manter a continuidade da administração.
- Manter a individualidade do cateter que está sendo utilizado para Nutrição Parenteral, exceto no caso dos lipídeos, que podem ser conectados em "Y" à via de acesso principal. Eles devem ser administrados em 24 horas e em seguida o equipo deve ser descartado.
- Reservar a via distal para a nutrição parenteral quando estiver sendo utilizado um cateter de duas ou três vias.
- Utilizar bomba de infusão para administrar nutrição parenteral (aminoácidos e glicose), trocar os equipos a cada 48 horas. Quando em uso o sistema 3 em 1, a NP acondicionada em bolsas de 2 ou 3 litros de etil-vinil-acetato (EVA) , o equipo de infusão pode ser conectado à bolsa sob fluxo laminar e ser descartado com todo o sistema após finda a infusão. Descartar o equipo depois da administração cíclica de NP.
- Em recém-nascidos e pacientes imunocomprometidos, deve-se trocar os equipos a cada 24 horas. Em pacientes pediátricos e recém-nascidos, com cateter de luz única e sem via de acesso periférica disponível, suspender momentaneamente a nutrição, limpar o local de administração de medicamentos no equipo de infusão, irrigar com solução salina normal, administrar o medicamento lentamente ou com auxílio de uma bureta, e irrigar novamente com solução salina normal.
- O frasco ou bolsa de nutrição parenteral, ou de outra solução, não deve permanecer instalado por mais de 24 horas. Deve-se manter sob refrigeração, a 4°C, a mistura que não estiver sendo administrada. Após retirá-la do refrigerador, 15 minutos antes da infusão, verificar se está à temperatura ambiente. NÃO utilize calor para aumentar a temperatura da solução.
- Não reinstalar uma solução de NP que tenha sido descontinuada ou retirada.
- Não utilizar a via de acesso de nutrição parenteral para administração simultânea de medicamentos, nem realizar medição de pressão venosa central ou coleta de amostras de sangue nesse cateter.
- Os filtros de 0,22 micra estão indicados quando a nutrição parenteral contém fosfato e cálcio. Trocar o filtro juntamente com o equipo a cada 24-48 horas ou segundo as indicações do fabricante.
- Os filtros de 1,2 micra estão indicados quando a nutrição parenteral contiver lipídeos. Trocar o filtro a cada 24 horas ou de acordo com as indicações do fabricante.
- Observar a mistura parenteral em uso para verificar precipitações ou turvação.